domingo, 2 de outubro de 2011

No Paquistão, os EUA foram enquadrados outra vez

Yousuf Gilani

(e Yousuf Gilani, do Paquistão, vive seu melhor momento)
2/10/2011, *MK Bhadrakumar, Indian Punchline

Ver também
10/5/2011, “Militares paquistaneses ‘enquadram’ os EUA”, MK Bhadrakumar

Impossível não ver o tom triunfante na voz do primeiro-ministro do Paquistão Yousuf Gilani, em seu discurso em Multan, ontem [1]. O Paquistão venceu em grande estilo, no impasse com os EUA. Mas, na minha avaliação, o maior vitorioso foi o próprio Gilani, como agente político, no quadro da política do Paquistão. Foi perfeito, não só na queda de braço que disputou contra Washington e venceu, fazendo valer a opinião do Paquistão, mas, também porque ofereceu magnífica solução para o quartel-general em Rawalpindi [2], o que fará muita diferença na política interna do Paquistão no próximo governo. E dizer que foi escolhido para o cargo, pelo presidente Asif Zardari, em boa parte porque sempre foi considerado conciliador e “apolítico”. 

Vejam bem: Gilani hoje dá as cartas e pôde dizer que o diálogo entre Paquistão e os EUA será feito “em base de igualdade e confiança mútua”. Depois, mostrou ao presidente do Afeganistão Hamid Karzai que é preciso sair do palácio e trabalhar incansavelmente para conseguir arrancar o melhor possível, de uma situação adversa. 

Já conseguiu garantias formais [3], dos EUA, de que nenhum soldado dos EUA porá os pés no Waziristão. Obrigou o almirante Mike Mullen a desdizer-se na questão do nexo que haveria entre o Paquistão e a rede Haqqani. E, pelo sim, pelo não, também arrancou dos porta-vozes da Casa Branca e do Departamento de Estado a confirmação de que o almirante Mullen não fala pelos EUA. 

Como se não bastasse, também obrigou o presidente Barack Obama a agir pessoalmente, publicamente, para ajudar a aplicar um indispensável bálsamo no orgulho ferido do Paquistão.

O mais sensacional é que o Paquistão conseguiu também presentear os EUA com uma “saída estratégica” no caso do Afeganistão [4], que os EUA absolutamente não podem descartar: o contato direto com o clã Haqqani. 

A beleza dessa arquitetura política é que, agora, será a vez de os EUA fazerem o máximo possível para defender os “legítimos interesses” do Paquistão no Afeganistão, porque essa é a única via que restou aos EUA para defender, inter alia, os próprios interesses norte-americanos.

A mudança tectônica que já se constatou na diplomacia pública dos EUA, com o que disse o embaixador dos EUA no Paquistão, Cameron Munter [5] (e seu colega na Austrália) diz muito sobre as dimensões do sentimento de gratidão e alívio em Washington. É o melhor momento de Gilani.



Notas dos tradutores

Embaixador *MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu e Asia Online. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

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